segunda-feira, outubro 24, 2005

Desiguais

O Mito e a história

Ana carrega sobre si o martírio
De ver seu povo sofrer.
E sofre ela com o povo!

Ana caminha de novo
Nos caminhos que o povo não vê.
E o povo caminha com Ana!

O povo fala sobre uma Ana
Que Ana não consegue ver.
E Ana fala sobre o povo!

Ana agora vê o mundo
De um modo que o povo não vê.
E o povo já não vê Ana!

Ana morreu pelo povo
Que sabe o que pode ver.
E o povo vê Ana morrer!

Ana não mais existe
Para um povo que agora vê.
E o povo faz Ana viver!

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Artista das estatísticas

Doce criança!
Vem dançar
Coma as armadilhas do poder.
Entrega tua força
Por um punhado de
dignidade.
Alcança, na ponta dos pés,
O beiral da janela
Vê tua luz brilhar
Na face de outra criança.
Pobre criança!
Do frio que te cerca
Pelas calçadas,
Só tens direito a
Uma metade.
A outra é para teu irmão
Que ainda não chegou.
Triste irmão!
No peito que acaricia
Não há sequer contorno.
E o vento que lhe cala o choro
Só resta como alimento.
Minha criança!
Não tenho ainda o teu consolo
Mas, muitos o tem...
Conhecem tua história
De longos anos..
És artista sem saber!
E se quiseres saber
Teu nome
Ah! Doce criança!
Terás que ser alguém.

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Teu rosto, mulher
Contorna as armadilhas do tempo
Com o olhar.
Mergulha
Sem saber pra onde
E por quanto tempo
Como gota de eternidade
Na imensidão do mar.
O tempo não refez sentimentos
Iludiu
Com sombras de amor
Teu vulto insano.
Acreditastes.
Não mantivestes aquele olhar.
O tempo
Virou realidade em tua face
Fostes feliz em sonho
E não sabias.
Acordas
Olhos abertos
Não podem ver
E tu insistes
Miras a eternidade....
Acabas adormecendo.

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Nascimento

A vida, por um instante,
Pareceu encher de alegria
O nascimento.
Mas a criança,
Sublime essência de amor,
Nasceu da opressão e da violência.
E o ato de parir
Tornou-se um minuto de silêncio.
Silêncio da alma!
A criança já não chorou,
Fez-se silêncio também.
E então, a energia vital
Acomodou-se no universo
À espera de amor.

- ás mulheres violentadas nos campos de concentração da Bósnia.

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