segunda-feira, outubro 26, 2009

Minha oração


Que o presente não seja uma saudade.
E que o futuro não se torne um grilhão.
Que seja possível tanto sorrir
Quanto derramar um pranto.
Mas que o pranto não me desfaça 
A fé de poder no futuro te sentir.
Que a partida não seja ingrata,
E que a chegada não deixe um vão.
Que o amor seja a porta que abre
E que não haja nenhum sonho vão.
Que se possa dizer com as palavras
O que se vai no coração.
Que a dor não se agigante no peito

Nem que o peito em pedra fique
Que se risque a palavra maldita
E para tudo se ache um jeito.
Que os encontros sejam desejos
Que o desejo não vire prisão
Que a faca de dois gumes
Não se torne também solidão.
Que as mais belas lembranças
Não fiquem apenas guardadas
Que sejam compartilhadas
A cada dia em recomeço.
Que o medo não seja amigo
Dos dias, das horas a te pensar
Que seja linda a alvorada
Da nova vida a recomeçar.
E que o rumo do caminho
Não se torne bifurcação,
Que a estrada seja encantada
Que caminhe sempre para a união.

segunda-feira, julho 27, 2009

Manga-coco

O Ribeirão da Ilha sempre foi mágico pra mim. Nasci praticamente lá (a maternidade no centro foi um detalhe). Foi lá minhas primeiras peripécias sobre uma bicicleta (o que me rendeu um curativo espetacular). É lá onde moram minhas mais gostosas lembranças das férias, dos pés de frutas, dos meus namoricos; minhas lembranças visuais das casas antigas, do morro verdinho atrás de casa, da fogueira junina na casa da vó Anita, dos folguedos carnavalescos do Zé Pereira, do orgulho sempre contido de ver meus parentes conduzirem os cantos e encantos na banda Nossa Senhora da Lapa. É no Ribeirão que moram minhas lembranças gostosas da praia calma e limpa, das brincadeiras com os primos, do bolinho de chuva com suco servido na beira da prai pela madrinha, da caminhadas de fim de tarde com a Tia Marinez, para tirar as gordurinhas da adolescencia. E nessas gostosas caminhadas, um cheiro e um sabor sempre ficaram: o da manga-coco. Os pés gigantes das mangueiras ao longo da estrada, nos terrenos baldios, eram pratos cheios de sabor para a nossa paradinha rápida da caminhada. E um dia, tentando fazer poesia com o violão, me deparei, na lembrança, com esse cheiro e o sabor da manga-coco. Nem sei se os pés ainda estão lá, se a manga-coco ainda deixa seu cheiro e sabor peculiar por aquelas bandas. Mas, o que importa. Foi só unir o passado e o presente e saiu uma canção. Uma espécie de bossa para a poesia.
O tema, talvez , só faça sentido pra mim. Mas já é o suficiente para que eu a cante sempre.
Um dia, gravo ela e coloco como um vídeo para os meus amigos escutarem. Agora, vai a letra...




Ai que saudade da ilha
Da Ilha de Santa Catarina

Lá na praia tem
um pé de manga-coco
e quando o vento bate
deixa muito louco
todo mundo passa
e sempre pega um pouco
dessa fruta doce
que faz lambuzar, ah, ah

Ai que saudade da ilha
Da Ilha de Santa Catarina

Por favor rapaz
Tome muito cuidado
que essa fruta é boa
mas tem um caroço
que se for chupar
tu fica todo doido
com essa maravilha
que é a manga-coco...

Ai que saudade da ilha
Da Ilha de Santa Catarina

Um dia me disseram
que essa manga veio
com aqueles negros
escravos da Bahia
que foram criados
com a violência
mas são todos filhos
da mãe poesia...

Ai que saudade da ilha
Da Ilha de Santa Catarina

Se você chegar
pra conhecer a ilha
e quiser comer
dessa maravilha
que é a manga-coco
pode perguntar
onde é que fica
o Ribeirão da Ilha...

Ai que saudade da ilha
Da Ilha de Santa Catarina

sexta-feira, maio 01, 2009

A porta

Quando abro uma porta
é para conter o desejo
de ver-te trancado por dentro
pra nada mais fazer.
Por isso vivo tentando
arrancar as portas em mim
que me fecham para o mundo
que me levam pra longe de ti.
Bom mesmo seria não ter porta
viver com a alegria de apenas estar
não importa se dentro ou fora de casa
mas aconchegado no verbo amar.
Minha porta do coração
pensei abrir só por fora
por isso nunca pude me esconder
Hoje sei que abro apenas por dentro
e melhor não ter os segredos
que é para o amor encontrar.
Vou me desfazer de todas as portas
que um dia consegui esculpir
o que interessa agora é o caminho
que ainda tenho por abrir.

Vinho

Teu corpo é como vinho
me entorpece, me fascina
deixa encorpada, curtida
Me faz querer ficar em teu ninho.
E se peco, querendo um copo a mais
logo vejo, sinto e te tomo
em meus braços, perco o sono
quero é viver nesse torpor, nessa paz.
Mas vinho se bebe aos poucos
e assim faz bem ao coração.
Teu corpo quero ter numa canção
tocada suave, baixinho, pra não ficarmos roucos.
E de gota em gota, gole em gole
vou te curtinho por inteiro
vou te banhando de meu cheiro
e enchendo nossa vida de amor.