quinta-feira, dezembro 23, 2010

Crônica de Natal - Meu querido Papai Noel


Piçarras, 23 de dezembro de 2010


Meu querido Papai Noel,

Já tenho nove anos, e quanto mais os anos passam, mais vamos esquecendo do senhor. Acho que é natural. Barbas brancas, roupa vermelha...Já não acreditamos mais ou, pelo menos, desconfiamos mais desses olhares cansados, suados, embaixo dessas roupas pesadas. Nada a ver com o nosso calor de verão.
Este ano, porém, tive que escrever uma carta para o senhor. Coisas da escola! Não queria, mas tive que querer. Fazia parte de um projeto da sala. Na carta, nada de pedir presentes, nada de contar indiscrições do tipo: se fui um bom menino. Fiquei mesmo aliviado! Afinal, não queria mentir. Então, claro, escrevi minha história em poucas linhas. Nove anos é muita historia para uma cartinha só. E o meu conhecimento ainda é pouco. Então contei o essencial. A carta foi para o correio. Depois disso, esqueci.
As férias estavam chegando, as provas passando, o ano parece que correu depressa! É até engraçado:  todo mundo quer que o Natal chegue, mas todo mundo reclama que o tempo passa! Na verdade, gente grande é complicada. Por isso, quando se vai crescendo, tudo parece que vai ficando sem graça, sem cor. E passa rápido mesmo! Ainda bem que sou meio criança, meio adulto. Então o tempo passa meio tudo. Meio rápido, meio devagar...
De repente, nos últimos dias de aula, chegou a sua cartinha pra mim. Fiquei surpreso, mas também ansioso. Sabia que não tinha presente, é claro, mas era a cartinha do Papai Noel.
Abri, e que decepção! Papai Noel errou meu nome. Justo o meu nome.  A professora tentou explicar, minha mãe criou mil desculpas. Mas não tem desculpa, o senhor não acha? Não dizem que Papai Noel sabe tudo, que entrega todos os presentes, que vai a todos os lugares do mundo?  E não sabe meu nome?
Corta essa! Você está mesmo é velhinho, acho que até está caducando. Escrever meu nome errado? Então não sabe ler? Não viu a cartinha que mandei? Acho melhor o senhor começar o ano de novo, fazer tudo novamente – vai repetir de ano!!
Eu sei que Papai Noel não existe, agora ficou provado. Mas o senhor sabe que tem criança que acredita e, às vezes, é bom mesmo acreditar! Por isso, escrevo essa nova cartinha só pra reforçar a ideia e lembrar que no próximo ano, o senhor não esqueça de ninguém. Não erre o nome das crianças! Porque o senhor pode até não entregar o presente que a gente quer, mas errar o nome?!
Tô ficando até chato com isso, né? Ainda mais pra quem tem muitos nomes como o senhor: Pai Natal, Santa Claus, Papai Noel... Mesmo assim, o senhor tem que entender. Todo mundo tem um nome! A gente se sente mais gente quando tem um nome. Se sente até especial.
Já pensou, esquecerem seu nome? De Jesus muita gente já esqueceu e olha no que deu!!
Guerras, brigas, injustiça, fome. Minha mãe diz que isso tudo é culpa de quem não lembra de Jesus, não fala seu nome.
Então, o senhor já sabe.  Nunca erre e esqueça o nome de ninguém!! Assim, ninguém também esquece do senhor!

Abraços,

Natalino

PS: Se der, apareça no Natal para o meu vizinho, João. Ele gosta muito do senhor! Não esqueça: JOÃO!

segunda-feira, novembro 15, 2010

Sonhar

Durmo e acordo
E ainda estás no mesmo lugar
No lado esquerdo do peito
Na parte reservada
para o grande amor
Não sei o que faço
Se sigo o rumo sem olhar pra traz
Se abro uma nova porta
Pra entrar um novo começar
Mas há que se saber
Que quando um rio caudaloso
Passa
Deixa um rastro de sua água fria
E limpa
Que mata a sede, molha a alma
E é impossível apagar
Sua lembrança.
Então por vezes peço chuva
Pra que possa renovar em mim
As promessas, as lembranças
A saudade
Que nunca apaga.
Meus sonhos sonham algo
Que desejo
Que suspiro
Que revejo
E se tudo não for eterno
E se tudo não fosse belo
Não teria espaço em mim.
Acordo e durmo
E meu corpo relaxa dos dias
Minha alma acorda para as noites
E tudo recomeça
Minha alma briga, cobra
Rebate, alucina
Está tudo aqui ainda...
Tudo e todo o amor
Aonde quer que eu vá
Há um recomeçar
Então enxugo as lágrimas
Pra alegrar meus meninos
Pra não machucar meus sonhos
Pra recomeçar, e de novo
Marcar meu sonho
Com o eterno amor.

quinta-feira, outubro 28, 2010

Reflexão

Pra conhecer a vida
É preciso já ter morrido
É preciso já ter perdido
Um amor, um valor
É preciso ter se descuidado do prumo
E depois, em prantos, ter pedido tudo
De volta, como sempre, ou como nunca.
Pra conhecer a vida
É preciso ter sofrido a perda da morte
É preciso ter estado sem Norte
Revisitado a cada dia o mesmo caminho
E achado novos trilhos,
ainda que com o mesmo trem.
Pra conhecer a vida
É preciso morrer aos poucos
O velho hábito de querer sempre mais
Basta-nos o que já somos
Basta-nos o que já fomos
É preciso apenas viver intensamente
Sempre, a cada dia presente,
Nas portas da plenitude.
Pra conhecer a vida
Basta-nos ser e sentir
Ver e ouvir
Dar e amar.

quinta-feira, setembro 02, 2010

Novos rumos

Há na vida
tantos rumos
que nos cabe atravessar
tantos muros
fora do prumo
que o certo mesmo
é pular
há na vida
tantos sumos
para da vida sugar
tantos gostos, expostos
falta é tempo pra
saborear
E se nos falta a certeza
de como começar
recomeça, a cada instante
nosso desejo de estar
sempre presente
rente
às portas do amar.

Sou um barco vazio

Sou um barco vazio
Pelas margens do rio
Vejo ao longe um porto
Mas há parada de dor
Não tenho como
- Nem vontade -
De ficar nessas águas
Frias
Breve é meu sentir
Como é breve o olhar
Teu prazer tão distante
Mas ainda por mim
Presente, intensamente
Forte
Não é simples
navegar nas águas da emoção...
mas quem não tem
medo de naufragar,
segue adiante.
Confiante
Que um dia
Há de ancorar.

quinta-feira, junho 10, 2010

Relembrando

Revendo meus escritos aqui no blog, achei este texto..Tudo bem que foi escrito há quatro anos, mas o que se lembra da infância quase não se muda...se completa. Aqui, a única coisa que eu poderia completar é que agora, não choro mais sozinha. Estamos na Copa do Mundo da África do Sul - 2010. Choro e torço com meus filhos, também amantes desta arte que é o futebol!!

 Relato de infância


Ainda me lembro quando criança, quando chorei pelo Brasil. Uma despedida emocionada daquela grande seleção de craques da Copa de 1986. Foi um choro sentido, comoção de verdade, de ver meu sonho canarinho - do meu ídolo Zico - ir pousar em outras nações.

Neste sábado revivi um pouco daquela emoção. Desta vez contive o choro, afinal, já não tenho mais 12 anos, meus ídolos agora são outros, muito distantes do futebol. Mas, confesso, torci por vezes como criança. Esbravejei, joguei junto, fui mais técnico do que Parreira, chutei o que Ronaldinho nenhum chutou, comprei camiseta e bandeirinha. Remei contra a maré caseira, que insistia em dizer que era apenas um jogo, que não valia a pena torcer assim...Torci e perdi, mas tudo bem...

Gosto de futebol. Desde pequena, sempre foi a minha praia. Estava sempre no meio dos meninos, jogando junto, agarrando todas, sob o som das vaias das minhas amiguinhas, sob o olhar desconfiado da mãe delas. E sempre me orgulhei disso. Os meninos da minha rua já até nem ligavam mais, me escalavam para o time. E entre tantas caneladas, sobrevivi e sobreviveram eles.

E a paixão pelo futebol, e pelo Flamengo (timão), hoje me dão energia pra jogar com meus filhos, com vontade e alegria, não por obrigação mas por diversão. E o futebol vai seguindo por minha vida...Meus filhos sonham como futebol...um quer ser Robinho, o outro Dida. Talvez nenhum deles chegue a concretizar o sonho de menino.. Assim, como aconteceu comigo. Afinal, quando criança a gente sonha em ser um pouco de tudo... nem sei se sonhei em ser jogadora, porque naquela época ainda não tinham times femininos.
Não quero deixar de torcer, nem que seja para o Marcílio, que morre mais na praia do que qualquer marinheiro...Pra mim faz bem...e ponto final!

sexta-feira, maio 14, 2010

Quando os anos passam...

Tem pelo menos um dia em cada ano, que nos faz pensar nos anos que já se passaram...No meu caso, 36 anos de muitas experiências. Se eu dissesse que todas essas experiências foram boas, seria mentira. Isso não quer dizer que não foram importantes, especiais para a formação de quem hoje sou. Mas, agora me pergunto, quem sou eu? O que tenho feito de mim mesma, o que tenho me mostrado, o que tenho feito com meus pensamentos, com minhas ações.
Sei que sou uma pessoa que precisa de desafios pra se superar. E que desafios me coloquei pra que pudesse ultrapassá-los!! Tenho tendência a me acomodar, e por obra de Deus e de meus bons amigos espirituais, a vida vem sempre a me dar um chute na bunda..uma forma de pular para um outro degrau. Por vezes extremamente alegres estas minhas subidas.(Subidas, sim, porque não acredito em retrocesso na vida). Outras vezes, subidas penosas, dolorosas mesmo.
Por tudo o que passei, acredito em mim, na minha força interior, no meu poder de mudança. Nem sempre essa crença, porém, está visível pra mim...Preciso mergulhar no meu profundo interior e resgatá-la. Como agora.
Agradeço a Deus pela minha vida, pelos meus filhos, pelas minhas escolhas (sensatas ou não). Agradeço pelos amigos que tenho feito ao longo da estrada. Agradeço por ter conquistado amigos, afinal, muitos passam pela vida apenas com coleguinhas, com falsos amigos, com ilusões...

Neste ano que agora recomeça em mim, neste dia de apagar as velas e dos pedidos, peço a Deus apenas compreensão e sabedoria pra dar os passos que minha perna podem alcançar. Para falar apenas o que meus ouvidos gostariam de ouvir, de ouvir tudo o que preciso e o que meus amigos precisam dizer.Que Deus me dê paciência apra entender meus filhos, e para entender que talvez não me entendam agora. Que Deus me dê coragem pra enfrentar os novos desafios e que meus passos sejam firmes, mas não pisem em ninguém; que sejam suaves, mas me sustentem no chão.Que eu possa ser o que devo ser. Mãe, mulher, amiga, lutadora, companheira...Obrigada, senhor, pela chance de ser quem sou!