Choremos!
Chorar é preciso, diriam alguns. Afinal, o corpo humano
produz lágrimas 24 horas por dia. Chorar lubrifica os olhos e, para muitos, lava
a alma. Enfim, choramos desde o dia que nascemos. Mas, convenhamos, torcedores
de futebol choram ainda mais. É fato! Mas, há choros e choros. Em 1986, chorei
porque o Brasil dos craques Zico, Junior, Casagrande, Careca, Branco, Sócrates,
Oscar, Falcão, Muller e outros perderam a chance de chegar ao tetracampeonato.
Perderam nos pênaltis para a França, na Copa do México. Chorei ainda mais
porque a Argentina (sim, já tínhamos os ranços com los hermanos) foi a vencedora
da Copa.
Mas, o choro não foi em vão. Com 12 anos, aprendi que há
derrotas mais fáceis de engolir que outras. Aprendi que futebol é muito de
emoção e pouco de razão para o torcedor. Em campo, porém, o contrário é o que
vale. Aprendi a fazer álbuns de figurinhas, a compreender a história
futebolística e gostar dela. Aprendi que futebol era também pra meninas, apesar
da canela dos meus amigos dizerem o contrário. E continuei torcendo, mas não
mais do mesmo jeito. Tivemos derrotas e dois mundiais na bagagem. Os choros nem
foram tantos assim.
E sempre gostei de futebol, escolhi o time mais amado e mais
odiado do país para torcer: o Flamengo. E convenhamos, chorei mais do que
sorri... Enfim, cresci, casei, tive filhos e eles hoje me trazem de volta a
alegria do futebol. Jogam, perdem e ganham, mas o choro pela vitória e pela
derrota é de outro jeito. Continuo, porém, como qualquer brasileiro torcedor de
futebol. Sou um pouco técnico, xingo o juiz, levanto bandeiras. Só não me
arrisco mais em ‘bater uma bolinha’, afinal, os anos chegaram, os quilos
chegaram, o talento sumiu de vez. Mas, ainda tenho álbuns de figurinhas, e agora
temos a Copa no Brasil.
E o choro retornou ao nosso convívio. Temíamos os aeroportos
desestruturados, temíamos as obras de infraestrutura, temíamos os black bocs,
temíamos um novo “macaranaço” e até temíamos as zebras. Mas, nunca, nunca uma
zebra verde-amarela. Um apagão de talento. Alguém até comentou nas redes
sociais que o dia 8 de julho pareceu o filme dirigido por Joy Pitka, ‘Space Jam’,
onde seres alienígenas retiram os talentos dos principais jogadores da NBA.
Sim, eu vi um ‘space jam” em campo. Mas, não vi Pernalonga, Patolino, Gaguinho,
Hortelino e Frajola saírem da plateia para nos salvar. Enfim, os jogadores estavam
sós. E, do outro lado da televisão, nós, apáticos, indignados pelo 7 a 1
histórico e até agora inacreditável.
Seria pior, pra mim, se eu tivesse apenas aqueles mesmos 12
anos, como meu filho tem hoje. Ele vive o que eu vivi, chora o que chorei em
1986. Por ironia do destino, a Argentina fará a final da Copa no Brasil,
amanhã, contra a Alemanha. A mesma final de 1986. Há, porém, uma diferença.
Desta vez, torcerei, consciente, para a Argentina ganhar. Para salvar os meus
pontos no bolão e também porque aprendi que, pelo menos no futebol, chorar é
preciso e faz crescer. Se não é pra ter um fado ou um chorinho brasileiro, que
seja um tango bem dançado. Em nome do bom futebol sulamericano, choremos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário