segunda-feira, julho 21, 2014

Choremos!!!

Esta foi a crônica esportiva que publiquei no Jornal do Comércio, um dia antes da final da Copa do Mundo da Fifa no Brasil....se quiserem dar uma espiada!!



Choremos!
Chorar é preciso, diriam alguns. Afinal, o corpo humano produz lágrimas 24 horas por dia. Chorar lubrifica os olhos e, para muitos, lava a alma. Enfim, choramos desde o dia que nascemos. Mas, convenhamos, torcedores de futebol choram ainda mais. É fato! Mas, há choros e choros. Em 1986, chorei porque o Brasil dos craques Zico, Junior, Casagrande, Careca, Branco, Sócrates, Oscar, Falcão, Muller e outros perderam a chance de chegar ao tetracampeonato. Perderam nos pênaltis para a França, na Copa do México. Chorei ainda mais porque a Argentina (sim, já tínhamos os ranços com los hermanos) foi a vencedora da Copa.
Mas, o choro não foi em vão. Com 12 anos, aprendi que há derrotas mais fáceis de engolir que outras. Aprendi que futebol é muito de emoção e pouco de razão para o torcedor. Em campo, porém, o contrário é o que vale. Aprendi a fazer álbuns de figurinhas, a compreender a história futebolística e gostar dela. Aprendi que futebol era também pra meninas, apesar da canela dos meus amigos dizerem o contrário. E continuei torcendo, mas não mais do mesmo jeito. Tivemos derrotas e dois mundiais na bagagem. Os choros nem foram tantos assim.
E sempre gostei de futebol, escolhi o time mais amado e mais odiado do país para torcer: o Flamengo. E convenhamos, chorei mais do que sorri... Enfim, cresci, casei, tive filhos e eles hoje me trazem de volta a alegria do futebol. Jogam, perdem e ganham, mas o choro pela vitória e pela derrota é de outro jeito. Continuo, porém, como qualquer brasileiro torcedor de futebol. Sou um pouco técnico, xingo o juiz, levanto bandeiras. Só não me arrisco mais em ‘bater uma bolinha’, afinal, os anos chegaram, os quilos chegaram, o talento sumiu de vez. Mas, ainda tenho álbuns de figurinhas, e agora temos a Copa no Brasil.
E o choro retornou ao nosso convívio. Temíamos os aeroportos desestruturados, temíamos as obras de infraestrutura, temíamos os black bocs, temíamos um novo “macaranaço” e até temíamos as zebras. Mas, nunca, nunca uma zebra verde-amarela. Um apagão de talento. Alguém até comentou nas redes sociais que o dia 8 de julho pareceu o filme dirigido por Joy Pitka, ‘Space Jam’, onde seres alienígenas retiram os talentos dos principais jogadores da NBA. Sim, eu vi um ‘space jam” em campo. Mas, não vi Pernalonga, Patolino, Gaguinho, Hortelino e Frajola saírem da plateia para nos salvar. Enfim, os jogadores estavam sós. E, do outro lado da televisão, nós, apáticos, indignados pelo 7 a 1 histórico e até agora inacreditável.

Seria pior, pra mim, se eu tivesse apenas aqueles mesmos 12 anos, como meu filho tem hoje. Ele vive o que eu vivi, chora o que chorei em 1986. Por ironia do destino, a Argentina fará a final da Copa no Brasil, amanhã, contra a Alemanha. A mesma final de 1986. Há, porém, uma diferença. Desta vez, torcerei, consciente, para a Argentina ganhar. Para salvar os meus pontos no bolão e também porque aprendi que, pelo menos no futebol, chorar é preciso e faz crescer. Se não é pra ter um fado ou um chorinho brasileiro, que seja um tango bem dançado. Em nome do bom futebol sulamericano, choremos!

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