terça-feira, dezembro 17, 2013

Detalhes de uma manhã de Verão

Depois de um longo tempo sem postar textos aqui, vai uma reflexão matinal!!!

Detalhes de uma manhã de Verão
Por Dani Garcia


São seis e trinta da manhã. O dia já clareou. Os poucos carros pela rua revelam que ainda é cedo para acordar. As aulas na escola ao lado já terminaram e aquele vai e vem de crianças, jovens e adultos não vai acontecer hoje. Preparo a mesa para o café, os filhos dormem, dou ração e água para a cachorra e preparo o trato dos passarinhos.
Com uma xícara de café bem quente, pouco leite, nada de açúcar, me sento no banquinho já estrategicamente posicionado nos fundos de casa, com vista para o quintal, e me ponho a observar o vai e vem dos passarinhos. Pousam aqui e ali, num constante movimento atrás do benefício diário da alimentação sem muito esforço.
Alguns sanhaçus, mais ariscos e ressabiados, param em galhos bem acima das primeiras árvores só para me observarem. Será que ela vai se mexer? Será que vai nos apanhar? Que perigos vai nos oferecer? Uma incerteza e um medo que, porém, não tiram a vontade de descer para comer a banana bem postada no comedouro, ou entre os galhos das árvores.
Eles temem, mas descem, na certeza de que o risco compensa o prazer de uma banana madura para alimentar-se e alimentar seus filhotes. E assim fazem, diariamente neste meu pequeno paraíso, os tico-ticos, saís, gaturamos, suiriris, bem-te-vis, sabiás, tiés, vira bostas, aracuãs, saracuras, guaracavas, cambacicas, pardais, rolinhas e ainda uma dezenas de espécies esporádicas.
Amo os pássaros. Não me canso de olhá-los. Em cada joão-de-barro que cisca no quintal uma particularidade, um andar, um canto diferente. À primeira vista, todos parecem iguais. Não são! O beija-flor não para para beber o néctar que coloco diariamente sob a árvore. Num ritmo frenético de bater de asas, se alimenta em movimento mesmo, porque não pode perder tempo para conversar ou posar para fotos. Quisera eu ter uma câmera melhor para capturar e eternizar todos os momentos que os olhos conseguem captar! O cheiro do jasmim-manga se mistura, docemente, com o cheiro do verde da bem cortada grama, exalando um perfume de natureza excepcional.
Já não olho o meu quintal como antes! O garapuvu do terreno ao lado, imponente, sorri para mim do alto do seu esplendor. O pé de cortiça está ali, firme e forte apesar de velho, a abrigar os viajantes dos céus. (E quantas maravilhas ali já pousaram!). A alamanda já colore de amarelo o verde gramado, com seus galhos pendendo de tanto encantar.
As laranjeiras, limoeiros e tangerineiras já se preparam para uma nova safra de delícias. Os pessegueiros, apressados, agora deixam cair os últimos frutos ainda tímidos. O tapicuru atravessa o céu como uma lança, com seu bico fino e comprido a preparar o pouso em um lugar especial.
No fundo do quintal, observo os pés de quaresmeira a colorirem o verde da mata baixa. Enquanto o galo da vizinha, preso e triste, canta a sua música matinal e pesarosa -“tô ferrado...”. O sol ainda tímido, não saiu, dando até um trégua para os que, a pé, vão ao trabalho em busca do sustento. Faz calor nesses dias de dezembro em Balneário Piçarras, neste pedacinho pequeno de terra do Brasil, à beira-mar.
Meu coração bate preocupado, ansioso pelos novos desafios que virão. Mas, ao mesmo tempo, percebo a beleza de experiências que me reservam para o próximo ano. O maior contato com a família querida, os novos desafios da profissão, as coisas do coração. Os desafios da vida em sociedade, com as entidades  carecendo de apoio e braço disposto ao trabalho.
Suspiro fundo e o cheiro da natureza me dá novo ânimo. A andorinha que sobrevoa  me faz querer alçar novos voos também. Mas, como terra que sou, o voo não será alto e rápido demais, porque não posso perder o foco nas raízes da terra. Sim, nas raízes, porque ainda sou humana. Os estudos ajudam na compreensão do alto, na certeza da imortalidade e na necessidade de elevar-se. Mas, é aqui ainda que estão as paixões, o cuidado com os filhos, as necessidades diárias de quem, como eu, ainda tem muito por fazer e resgatar.
As horas passam, a câmera ao lado ficou parada. Sequer uma foto para registrar a manhã. Mas, para quê? Os olhos capturam o meu momento, único e intransferível. A minha visão do meu quintal. Um mergulho em mim mesma. As horas passam e um cantar diferente me chama atenção. A ave está lá, majestosa a cantar no galho bem alto do pé de cortiça.

Retiro tudo o que disse sobre registrar o momento único. Ele é único sim, mas não posso deixar de compartilhar com quem, diferente de mim, não tem esse privilégio de ter a beleza ao seu redor. Levanto tiro a foto, nem sei ainda que espécie é. Pesquisarei! Mas, enfim, olho o relógio e é hora de começar o percurso dos dias. Obrigada, senhor, por mais um dia!

3 comentários:

JOSÉ VITOR CENTENO RODRIGUES disse...

Danielle teu texto é impecável. De ganhar concursos, sem dúvida. Mas acho q precisas urgentemente conhecer os Rizzaro. Mandarei referecias para ambos. Ate breve.

JOSÉ VITOR CENTENO RODRIGUES disse...

Danielle teu texto é impecável. De ganhar concursos, sem dúvida. Mas acho q precisas urgentemente conhecer os Rizzaro. Mandarei referecias para ambos. Ate breve.

Me disse...

Muito bom estar contigo no seu paraíso, tanto a sua casa quanto no seu coração de gente especial. Estas fotos da alma que vc compartilhou conosco foram muito aconchegantes. Continua! Passarinhos e textos!